Todo mundo sempre me pergunta sobre a minha relação com o futebol. Como o futebol entrou na minha vida e por que eu gosto tanto.
Tem muito tempo que eu penso em escrever esse post, mas sei lá, sempre ficava meio com vergonha, parece uma coisa meio boba, meio idiota. Mas ontem, eu fiquei profundamente furiosa com o Flamengo, indignada. Eu queria desligar a TV e ir dormir. Mas eu não conseguia. Aí eu fiquei com raiva de mim por não conseguir e fiquei pensando nessa relação Rachel + futebol e saudade que eu estava de escrever.
Outro dia, numa roda de conversa com meu pai e os amigos dele, eles estavam lembrando de um torneio da cidade disputaram pelo clube que frequento desde pequena. O time tinha ido pra final, eu não tinha nem um ano de vida, mas eu fui junto, no colo do meu pai, assistir ao jogo. Esse é só um exemplo de como separar Rachel do futebol é meio difícil. Ele sempre esteve presente.
A primeira lembrança que eu tenho de assistir um jogo de futebol na TV foi na Copa do Mundo de 1994. Lembro que eu tinha uma camisa de manga comprida branca, escrita Brasil e com umas bolas brilhantes. Eu tinha 5 anos. Me recordo de sentar com meu pai na sala pra assistir aos jogos e de perguntar à ele tudo que eu não sabia ou não entendia. Eu sempre fui curiosa, seria a veia jornalística?
No dia da final, eu lembro de achar muito curioso a felicidade das pessoas, do meu pai e outros que assistiram ao jogo junto com a gente. Lembro que tinha gente chorando. E lembro de achar tudo aquilo muito legal. Acho que foi nesse momento que eu me apaixonei mesmo pelo futebol.
Mas antes disso, o futebol já era parte da minha vida. Meu pai é professor de Educação física e professor de futsal. Dos meus 3 aos 7 anos, eu estudei no colégio em que ele dava aula de futsal. Meu pai dava aula as segundas e quartas, e eu fazia balé também nesses dias e depois ia embora com ele. Mas o balé acabava antes do futsal. Então, eu saia da aula de balé e sentava no banquinho da quadra pra esperar meu pai. Eu ficava lá, olhando ele e seu ajudante darem aulas de fundamento e comandarem "jogos" entre um monte de criancinhas, entre eles vários coleguinhas meus de sala.
Assim meio sem querer, observando e convivendo com aquilo tudo, eu fui aprendendo sobre esse esporte que mexe tanto com os brasileiros e com o resto do mundo. E eu sempre fazia perguntas, pra entender o que não me ficava claro assistindo. E eu ia nos jogos que o colégio disputava com outros colégios. E meu pai me explicava as regras e as coisas.
Eu era a filha do Guilherme, professor de futebol.
Meu pai era Flamengo. Meu avô materno, meu padrinho e o meu tio, que eram os meus ídolos, ao lado do meu pai, eram Fluminense. Eu vivia uma dúvida interna. Eu queria torcer para o Flamengo, eu não sabia por que, mas meu time era o Flamengo. Mas eu não queria decepcionar o meu avô e os meus tios. Aí, para meu avô e os meus tios eu falava que era OS DOIS, mesmo sabendo que ninguém ia acreditar nisso, coisas de criança. Quando eu tinha 7 anos meu avô faleceu, aí eu assumi minha torcida pelo rubro negro.
Time é uma coisa engraçada. Familia, principalmente pai e avô tem forte participação na escolha da criança. Mas tem uma outra coisa inexplicável, que parece que o time escolhe você e não você escolhe o time.
Lembro de ouvir mil vezes e com a mesma atenção (e isso continua até hoje), as histórias de quando meu pai aproveitou uma greve na Universidade de Viçosa e foi fazer estágio no Flamengo. Lembro dele contando das histórias do Zico.
Depois eu mudei de colégio, e eu lembro de me meter nas rodas de conversas dos meninos sobre futebol. E na dos adultos.
E eu lembro de ajudar eles a organizar o time na Interclasse. E eu lembro de como eu ficava triste de não conseguir fazer na prática tudo que eu sabia como era na teoria. HAHAHA Acho que uma das minhas maiores decepções foi nunca achar um esporte em que eu era realmente boa. Acho que ele ainda não foi inventado.
E assim foi. Eu assistia peladas de domingo do meu pai e depois, jogos do meu irmão. Eu assistia treinos de colégio, eu assistia competições da cidade, eu assistia jogos na TV. Aí eu assistia na TV outros jogos que não eram do meu time e nem do Brasil. Aí eu me apaixonei pelo futebol do Zidane. Aí eu decidi que eu tinha que ver ele jogar mais vezes e não esperar outra Copa. Assim eu comecei a gostar de futebol europeu. Acabei sem saber muito bem por que, me afeiçoando ao Real Madrid. (VIU, NÃO TEM NADA A VER COM O CRISTIANO RONALDO!)
Eu sempre gostei de aprender, de ler, de ouvir, de observar e como consequência, de dar opinião. Acho que isso tudo me influenciou muito a fazer Jornalismo.
Não consigo passar uma rodinha de pessoas que eu as vezes nem conheço direito falando de futebol e ficar calada. Tenho vontade de participar até de conversas entre desconhecidos.
As pessoas sempre acharam isso diferente e váááárias ficavam e ainda ficam surpresas. Não sei se é porque eu sou menina. Se é porque eu sempre fui pequeninha, delicada, mulherzinha mesmo, vaidosa, apaixonada por roupas, sapatos, bolsas, maquiagem e afins, que andava toda emperequetada. Eu fazia balé e gostava de assistir futebol. E nunca achei isso esquisito. Minha mãe só se incomoda quando eu me recuso a ir ao shopping porque tem jogo na televisão ou quando vê que eu gastei 150 reais comprando uma camisa do Real Madrid. Ou quando viu caírem lágrimas dos meus olhos quando eu abri um presente de formatura que era uma camisa do Flamengo. E eu tinha ganhado brincos de cristal, muitas flores e outra coisas, mas nada me comoveu tanto e tão rápido quanto aquela camisa. Minhas amigas me zoam demais, mas a grande maioria, mesmo não entendendo, respeitam porque eu não posso ir ao shopping as 16h no domingo.
Sempre assisti outros esportes, gostava, comentava. Mas nenhum outro me fascinou tanto quanto o futebol.
A magia, a emoção, a paixão que o envolvem são subjetivas e inexplicáveis, meio misteriosas. E só quem gosta de assistir 22 homens e uma bola se movimentando em um gramado, de torcer por um time, de sentir raiva, ódio, alegria, tensão, alívio, de chorar e de sorrir por causa disso, sabe como é e entende. Ou melhor, não entende, mas compreende, porque é tão envolvente, porque ajuda a explicar muita coisa no nosso país e no mundo, e por que move tanta gente e tanto dinheiro.
Respeito quem não aprecia o esporte, mas não respeito quem critica ou o culpa pelos problemas do Brasil e do mundo.
Pra vocês que não gostam, vocês não tem noção do que estão perdendo.